sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Não seja demasiado gay

O título do presente texto até pode, de certa forma, chocar. Mas eu explico a metáfora (já que ou você é gay ou não é, não existe isso de variação de intensidade de homossexualidade).

Nessa minha puta vida acabei conhecendo gente de todos os tipos, estilos, e caráteres. Muita gente homossexual, bissexual e — por mais incrível que possa parecer — até heterossexual. Acabei fazendo uma constatação que os ativistas gays de maneira geral costumam odiar quando alguém comenta, mas não sou de tapar o sol com a peneira: os homossexuais geralmente são muito mais "perdidos" na vida do que os héteros.

É claro que é muito fácil de entender a razão desse fenômeno.

O mundo foi feito para os héteros, e há muitas culturas que criminalizam a homossexualidade (assim como criminalizam não seguir a religião dominante, ouvir música que não seja a da religião dominante, ou não ter nascido no mesmo país). Mas não só isso, pois a sociedade de países alegadamente "tolerantes", como o Brasil, ainda é extremamente homófoba e preconceituosa.

Num contexto desses é natural que as pessoas cujas escolhas são diferentes de procriar e viver em função da prole podem facilmente sentir que não há lugar para elas (oportunamente falo sobre escolhas, e por que homossexualidade não tem nada a ver com biologia como querem fazer crer os que não fazem trabalho de autoconhecimento).

Pelos idos dos Anos 70 e 80 (ou talvez antes, não sou muito versado em sociologia) ficaram conhecidos e "populares" os guetos gays. Gueto (do italiano ghetto) é um bairro ou região de uma cidade onde vivem os membros de uma etnia ou qualquer outro grupo minoritário, frequentemente devido a injunções, pressões ou circunstâncias econômicas ou sociais. No caso dos gays, bares, boates e saunas também foram generalizadamente definidos como "guetos".

Na acepção original do termo, o gueto demonstra que surgiu para que as minorias se fortalecessem: se uma pessoa sozinha é frágil, uma comunidade já não é tanto. Entretanto, atualmente viver exclusivamente dentro do gueto — em se tratando de meio de vida gay — pode ser mais fragilizante do que circular livremente por espaços diversos.

Aonde quero chegar é que mesmo que você trabalhe para patrões gays, e que só haja colegas gays na empresa, vai ser muito pouco provável — beirando o impossível — que os clientes da empresa sejam todos gays; se você for autônomo, e tiver a felicidade de trabalhar sozinho vai se ver ainda mais obrigado a interagir com pessoas não gays.

É muito importante que você seja capaz de encontrar sentido em sua vida sem depender de outras pessoas e de sua aprovação. Ter uma gama de interesses variados, que excedam a estética homoerótica, pode ser o diferencial entre aquele emprego que paga salários de 5 dígitos e ter de contentar-se com um subemprego.

Se você chegou até esse ponto do meu texto, então haverá de concordar comigo que não importa como você se veste, como sai à rua ou qual vocabulário prefere usar. Trata-se, isso sim, de uma questão de adaptação: exceto os podres de rico que nunca precisaram, todos nós temos de vender nosso trabalho para sobreviver; e todo bom vendedor sabe que precisa adequar seu discurso ao comprador, para gerar empatia e facilitar a venda.

E mais que isso, trata-se de não limitar seu potencial criativo dedicando-se só a uma parcela bem pequena da sociedade (vejo muito disso em quem "se apaixona" pela utopia de uma comunidade ursina), quando há uma miríade de pessoas loucas para interagir com você, terem seus problemas resolvidos, serem bem tratadas, e pagar bem por isso.

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A ilustração deste post é uma foto do lustre que — dizem — o finado Clodovil ostentava em sua casa.

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