sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Viciado em sauna gay

Caro Urso de Verdade.

Estou escrevendo porque tenho um problema que me parece muito sério: sou viciado em saunas gays e "cinemões". Gasto todo meu dinheiro na sauna, vou todo santo dia, só consigo pensar nisso. Me ajuda, por favor!

Viciado

Caro Viciado.

Sua mensagem foi muito resumida, e por isso responderei baseado apenas na minha primeira impressão, o que pode vir a ser pouco; embora digam que a primeira impressão é a que fica, isso pode ser bastante leviano, haja vista a quantidade imensa de casos de pessoas que mudam de opinião, diariamente, a ponto de constatarem que sua primeira impressão estava totalmente equivocada.

A mim não ficou claro se o seu vício é em sexo, em sexo anônimo, ou se é vício de frequentar lugares como saunas e "cinemões".

Também não ficou claro se estou falando com um rapazola de 18 anos descobrindo o sexo, ou com um tiozão de 60 (que também pode estar descobrindo o sexo).

Sexo Fácil

O fato é que, sem nenhum julgamento de valor no que digo, saunas gays e cinemões (e outros "points" de pegação) podem vir a ser a solução prática encontrada por muita gente tímida para poder fazer sexo.

Principalmente na sauna, está tudo lá, às claras, as pessoas já estão peladas, e fora os que têm problemas de asseio, já estão de banho tomado esperando apenas por um parceiro (ou vários) para transar. Não há envolvimento pessoal, caso as pessoas não queiram, nem precisam perguntar os nomes umas das outras. Nem falar o mesmo idioma, para ser honesto.

Na verdade, frequentar esses lugares, em sim, não é um problema.

O problema começa quando a pessoa anula sua capacidade de namorar e ter um relacionamento de exclusividade (caso isso seja importante para ela), ou quando passa a tirar dinheiro que seria destinado a outras necessidades para gastar nesse tipo de divertimento.

Particularmente, acho que esse é um vício fácil de resolver — reiterando que só existe problema quando a pessoa passa a se prejudicar, objetiva ou inconscientemente.

Primeiro passo: decidir

Na verdade, esse é o único passo realmente importante, a partir do qual todos os demais serão consequências naturais. A pessoa que deseja mudar qualquer coisa — seja mudar um vício, adquirir um novo hábito, aprender algo, qualquer coisa mesmo — precisa antes de tudo decidir-se pela mudança. Uma vez tomada a decisão, com firmeza de vontade, ficará claro que o vício, no caso em análise, é menos importante do que as demais escolhas da pessoa.

Segundo passo: conhecer-se

Uma vez que a pessoa se decida a abrir mão do vício, ela terá de fazer um profundo trabalho de autoconhecimento, para identificar quais são as compensações que o vício implica, e quais os mecanismos e gatilhos que podem levar a "crises".

Nessa fase é provável que o viciado descubra que em vez de sexo anônimo ele busca na sauna e no cinemão alguma sorte de companhia, alguém que dê um pouco de calor humano e ajude a combater a solidão — por exemplo.

Terceiro passo: recompensar-se

De nenhum valor seria passar pelos árduos caminhos do autoconhecimento se não fosse para ser mais feliz.

Uma vez que a pessoa passe a entender como funciona, e por que cai (ou caía — espera-se que neste ponto a pessoa não seja mais escrava do vício) naquele comportamento que deseja modificar, será muito positivo se ela puder dar a si mesma recompensas com as quais não está (mais) acostumada.

É muito provável que o viciado em saunas acabe por se surpreender com o prazer que pode encontrar fazendo programas "normais", como ir ao cinema ou teatro, a um concerto, ler um livro, fazer uma viagem.

Quarto passo: não esmorecer

O primeiro passo sugerido aqui é o mais importante, o mais difícil, e o que pode causar mais engano: o sujeito pensa que decidiu pela mudança, mas intimamente, em alguma parte de si, ele anseia por perpetuar o vício. É muito importante não esmorecer antes as dificuldades, e reforçar os demais passos, e repetir o ciclo, a fim de que seja realmente possível entender intimamente que o vício realmente é algo sem valor algum.

Conclusão

Creio firmemente que qualquer ser humano seja capaz de operar qualquer mudança que deseje em sua vida, sem a necessidade de medicamentos, rituais, nada disso. Basta querer. Mas é extremamente importante conhecer-se, saber de onde vêm as motivações, os desejos, os medos, as culpas, para poder fazer um trabalho realmente útil e coerente de automelhoramento.

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Crédito da imagem: greenboy no Flickr