quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Quem precisa de clubes de ursos?

O artigo de hoje não é baseado na pergunta de ninguém, mas sim em minhas observações particulares a respeito da vida, do universo e tudo o mais...

Há uns dez, quinze anos atrás, começou a ficar popular no Brasil o conceito de "urso", que eu acho que não preciso relembrar aqui. No resto do mundo já havia outros rótulos, desde os radicais Girth & MIrth até os pseudoliberais ursos, lontras, caçadores e sei lá o que mais.

Logo se popularizaram aqui também os "bearcontros", ou encontros de ursos, quase sempre regados a música alta e bebida alcoólica, ou mesmo drogas, e quase sempre sexo.

Daí a criarem-se "clubes" e "clubinhos" (explícita ou tacitamente falando) foi um tapa, e hoje há uma vasta oferta de "atividades ursinas" nas principais cidades do mundo.

Mas a pergunta que não quer calar é: uma pessoa precisa conviver com essa parcela da sociedade para ser feliz?

A resposta, em minha opinião, é um sonoro não.

E essa é a opinião de alguém que já passou por muita, muita coisa nesses últimos vinte anos: desde a editoria de site temático à presidência de ONG (que nunca saiu do papel).

É claro que os seres humanos são gregários, que apreciam a vida em comunidade (até mesmo o Urtigão gosta, acredite). Ao descobrir-se homossexual é normal que a pessoa sinta-se um pária, um condenado à exclusão e ao autossufocamento de si mesmo até a morte. Com isso, qualquer atividade que proporcione a várias pessoas em igual situação a se expressarem parece ser uma espécie de tábua de salvação na qual os desesperados se agarram.

O que as pessoas esquecem é que clubinhos, guetos, "o meio", tudo está infestado de gente por tudo quanto é lado, e gente é um bicho mau até a medula. Gente também é um bicho fofoqueiro até não poder mais, sem falar na inveja e no despeito.

Se você não quer ter que lidar com isso, é melhor não se aproximar das atividades "ursinas".

Da mesma forma, vejo gente talentosa e inteligente que direciona toda a sua criatividade para assuntos "bears", toda e qualquer criatividade artística se manifesta em cores carregadas de sexualidade. Esse é outro crasso engano, em minha opinião.

Uma das grandes vantagens que nós, ursos, levamos sobre as travestis (por exemplo), é que a parcela homofóbica da população se sente mais à vontade conosco do que com elas: um cara que não aparente dar a bunda, mesmo que dê, causa menos desconforto do que alguém que aparente isso, mesmo que não dê.

Assim, é um grande erro, em minha opinião, limitar a expressão artística a motivos ursinos, quando se pode ir além. É desperdiçar a chance de se conhecerem realidades distintas, de se conviver com pessoas cuja alma é diferente da nossa e com quem provavelmente tenhamos algo a aprender. O que eu mais aprendi com os héteros com quem convivi foi que o meio jeito de viver a vida é infinitamente melhor que o deles, que se preocupam apenas em procriar e em ter uma casa e um carro mais bonitos que o do vizinho, com quem estão em constante competição de quem ostenta mais.

Já nos clubes gays aprendi que se o seu corpo for desejável você terá muitos "amigos", que após se satisfazerem não terão o menor pudor em te humilhar, te fazer sentir mal, e te abandonar.

Concorda comigo? Discorda? Use os comentários abaixo, e manifeste seu ponto de vista. Estou louco para ser convencido de que estou errado.